quinta-feira, 18 de junho de 2009

"Ei, moça! Caiu o diploma de jornalista!" - "Deixa pra lá, num serve pra nada mesmo!"

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Comentário de Ivana Bentes, postado na lista da Universidade Nômade (*)

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Caiu o Diploma de Jornalista! Fim da exigência abre novas formas de lutas pós mídias digitais


Agora, é pra valer, STF derrumou diploma nesta quarta. Nunca pensei
que iria concordar com o Gilmar Mendes um dia! 8 votos contra 1. Ivana

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Os Pré-Cogs estão chegando!

Fim da exigência do Diploma de jornalista abre novas formas de lutas
pós mídias digitais

(Ivana Bentes para Carta Capital)

Finalmente caiu o diploma de jornalista! Em votação histórica no
Supremo Tribunal Federal.

O fim da exigência do diploma para se exercer o jornalismo no Brasil
(como em tantos paises do mundo inteiro) abre uma série de novas
questões e debates sobre o campo da Comunicação pós-midias digitais,
bem mais interessantes que o velho muro das lamentações corporativas.
Agora, será necessário constituir novos “direitos” para jornalistas e
não-jornalistas, free-lancers, blogueiros e midialivristas terão que
inventar novas formas de lutas, comuns.

O fim do diploma tira da “invisibilidade” a nova força do capitalismo
cognitivo, as centenas e milhares de jovens free-lancers, autônomos,
midialivristas, inclusive formados em outras habilitações de
Comunicação, que eram impedidos por lei de fazer jornalismo e exercer
a profissão e que, ao lado de qualquer jovem formado em Comunicação,
constituem hoje os novos produtores simbólicos, a nova força de
trabalho “vivo”.

Vamos finalmente sair do piloto automático dos argumentos prontos “em
defesa do diploma” que sempre escamotearam alguns pontos decisivos:

1. O fim da exigência de diploma para trabalhar em jornalismo não
significa o fim do Ensino Superior em Jornalismo, nem o fim dos Cursos
de Comunicação que nunca foram tão valorizados. Outros cursos,
extremamente bem sucedidos e disputados no campo da Comunicação (como
Publicidade) não tem exigência de diploma para exercer a profissão e
são um sucesso com enorme demanda. A qualidade dos cursos e da
formação sempre teve a ver diretamente com projetos pedagógicos
desengessados, com consistência acadêmica, professores de formação
múltipla e aberta, diversidade subjetiva e não com “especificidade” ou
exigência corporativa de diploma.

2. As empresas de jornalismo e comunicação são as primeiros a
contratarem os jornalistas com formação superior. NA UFRJ, por
exemplo, os estudantes de Comunicação e Jornalismo são “caçados” pelas
empresas que dão preferência aos formados, com nível superior em
Comunicação, por que mudariam?

3. Esse papo de “quem é contra o diploma faz o jogo do patrões”, é uma
velha ladainha, repetida no piloto automático da frases feitas.
Raciocínio que é bem mais conservador e retrógrado que o próprio
discurso das empresas/mercado que precisa empregar quem tem formação
de qualidade. Que precisa de profissionais qualificados,capazes de
entender os novos ambientes pós-digitais, capazes de fazer redes e de
inovar em diferentes campos.

4. Os jornais já burlam a exigência de diploma pagando os MAIORES
salários da Redação aos não-jornalistas, cronistas, articulistas,
editorialistas, muitos SEM diploma (a exigência de diploma nunca
alterou esse quadro!). As Universidades não precisam formar os “peões”
diplomados, mas jovens capazes de exercer sua autonomia, liberdade e
singularidade, dentro e fora das corporações, não profissionais “para
o mercado”, mas capazes de “criar” novos mercados, jornalismo público,
pós-corporações.

5. Nada justificava a “excepcionalidade” do diploma para os
jornalistas que criou uma “reserva de mercado” para um pequeno grupo e
que diminuía a empregabilidade de jovens formados em cinema, rádio e
TV, audiovisual, publicidade, produção editorial, etc. proibidos pelo
diploma de exercer…..jornalismo.

Até agora, nenhuma entidade corporativa defendeu nem pensou em uma
SEGURIDADE NOVA para os free-lancers, os precários, os que não tem e
nunca terão carteira assinada. É hora das associações, federações,
sindicatos mudarem o discurso do século XIX e entrarem no século XXI
buscando uma nova forma de SEGURIDADE PARA OS PRECÁRIOS, OS NÃO
DIPLOMADOS, OS MIDIALIVRISTAS, o fim do diploma aponta para essas
novas lutas.

O raciocínio corporativo constituiu até hoje uma espécie de “vanguarda
da retaguarda”, discurso, fabril, estanque, de defesa da “carteira
assinada” e “postos de trabalho “, quando no capitalismo cognitivo, no
capitalismo dos fluxos e da informação o que interessa é qualificar
não para “postos” ou especialidades (o operário substituível, o
salário mais baixo da redação!), mas para CAMPOS DO CONHECIMENTO, para
a produção de conhecimento de forma autônoma e livre, não o
assujeitamento do assalariado, paradigma do capitalismo fordista.

A idéia de que para ter “direitos” é preciso se ‘assujeitar” a uma
relação de patrão/empregado, de “assalariamento”, é uma idéia
francamente conservadora!

O precariado cognitivo, os jovens precários das economias criativas
estão reinventando as relações de trabalho, os desafios são enormes, a
economia pós-Google não é a Globo fordista, não vamos combater as
novas assimetrias e desigualdades com discursos e instrumentos da
revolução industrial.

Devemos lutar não por cartórios do século XIX, mas pelos novos
movimentos sociais de organização e defesa do precariado, lutar pela
AUTONOMIA fora das corporações, para novas formas de organização e
seguridade do trabalhador livre do PATRÃO E DA CORPORAÇÃO.

A General Motors nos EUA e as fábricas fordistas não vão falir
sozinhas, levarão juntos o capitalismo fabril, patronal, corporativo e
o arsenal conceitual, os discursos, que não conseguem mais dar conta,
nem explicar, as mudanças.

Acabou o diploma de Jornalismo, mas o diploma/formação de Comunicação
nunca foi tão importante! Vamos agora pensar o jornalismo público, o
jornalismo do comum! E, antes que eu me esqueça: isso não tem nada a
ver com “neoliberalismo”, vamos parar de repetir duas ou três frases
clichês!

Existem hoje “revoluções do capitalismo” (titulo do belo livro de
Mauricio Lazaratto, inspirado em Antonio Negri e Gilles Deleuze).

Não é a toa que a garotada prefere ir para as Lan Houses ao invés de
entrarem para as corporações.

A Comunicação e o jornalismo são importantes demais para serem
“exclusivas” de um grupo de “profissionais”. A Comunicação e o
jornalismo hoje são um “direito” de todos, que será exercido por
qualquer brasileiro, com ou sem diploma.

O capitalismo cognitivo está constituindo um novo processo de
acumulação globalizado, que tem como base o conhecimento, as redes
sociais, a comunicação, o “trabalho vivo” (Negri. Lazaratto. Cocco),
existem, claro, novas formas de exploração e assujeitamento, mas
também novas formas de luta!

Adeus ao proletariado fabril, diplomado ou não, viva o precariado
cognitivo, os Pré-Cogs que estão chegando e são a base da comunicação,
base das tecnologias da informação, base da economia do conhecimento,
que alimenta a inovação e as novas lutas.

Viva a formação superior em Comunicação, em Jornalismo, viva as Escola
Livres de Jornalismo e as novas dinâmicas mundanas de
ensino/aprendizado e trabalho “vivo”.

Ivana Bentes é professora e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ,
é formada em Comunicação com habilitação em jornalismo.


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(*) Recebido por e-mail, pois nosso telex está em manutenção.

PressAA

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